domingo, 15 de agosto de 2021

12 deslizes de roteiro de Smallville

A série Smallville ainda é uma das minhas séries preferidas. Seja pela trama cativante e bem construída ou pela memória afetiva de sua época, ela ainda hoje consegue me levar a um lugar especial. Contudo, é justamente por curtir tanto que não perdoo certos furos que a série deixou ao longo dos anos em seu roteiro, principalmente da oitava temporada em diante, quando os criadores originais saíram. Os pequenos deslizes que a história já apresentava nas primeiras temporadas, virou um queijo suíço durante as três últimas. Por isso resolvi criar esse post para destacar alguns dos principais deslizes de roteiro de Smallville que mais me incomodam quando assisto. Vamos lá!

1. Lucas Luthor

O personagem Lucas Luthor nos é apresentado na segunda temporada como sendo um filho de Lionel fora do casamento. Primeiro a mãe de Lucas chega a Smallville em busca do filho, que acredita ser Clark, e quase mata Lex para pressionar Lionel sobre o paradeiro do rapaz. Lionel garante que o garoto morreu ainda bebê. Contudo, alguns episódios depois Lex o encontra vivo e o traz a Metrópolis para confrontar o pai. Há uma disputa de egos e suborno. Lucas a princípio se alia a Lionel e por fim se une a Lex contra Lionel, exigindo seus direitos, mas abrindo mão de estar no comando da LuthorCorp, e saindo no mundo. O fato é que depois desse episódio ele nunca mais foi sequer mencionado na série. Não apareceu nem quando Lionel morreu ou quando Lex foi dado como morto na oitava temporada. Como que um herdeiro de um bilionário não retornaria em momento algum para tomar conta do que é seu, mesmo quando a corporação parecia não ter ninguém no comando? Lex ou Lionel chegaram a dar um fim a ele? Se isso aconteceu, nunca foi mencionado.

2. Dra. Helen Bryce

A médica que casa com Lex no fim da segunda temporada sempre pareceu ser uma pessoa de bom caráter, até mesmo guardou segredo sobre a amostra de sangue de Clark, a pedido dos Kent. Ameaçou não se casar mais, às vésperas do casamento, ao descobrir que Lex invadiu seu laboratório em busca do sangue de Clark. Contudo, ela se revelou uma verdadeira viúva negra, no início da terceira temporada, planejando calculosamente a morte de Lex para herdar sua fortuna. E ainda chegou a vender a Lionel a amostra de sangue de Clark. Então se ela era mesmo uma víbora, por que chegou a ajudar os Kent? Por que não se beneficiou logo da amostra de sangue de Clark? Há uma ruptura muito abrupta aí na personalidade de Helen. Mesmo que ela fosse dissimulada, as atitudes gerais dela em toda a segunda temporada não condiziam com isso.

3. Personalidade de Lionel

Lionel Luthor mudou bastante sua personalidade ao longo da série. A princípio parecia apenas um magnata sem escrúpulos e sem afeto pelo filho. Depois durante a segunda e terceira temporada vira o vilão da série. Na quarta, após trocar de corpo com Clark, se regenera, vira um homem de bem, desapegado dos bens materiais e capaz de fazer caridade. Porém, essa personalidade parece que não estava funcionando muito bem, e ainda na quarta temporada volta a assumir ser um homem de negócios, capaz do que for preciso para alcançar seus objetivos. Na quinta passa a ser oráculo de Jor-El, por estar de posse de uma das três pedras do poder, no momento em que Clark junta as outras duas. Mas isso não o impede de continuar chantageando quem for necessário, inclusive é o responsável pelo ataque cardíaco que mata Jonathan Kent. Porém, no final dessa temporada é defendido pelo Caçador de Marte, que alega que ele está do lado de Clark. Daí em diante ele é mostrado como alguém até de certa confiança dos Kent, mas com ressalvas, já que sempre que convém os roteiristas colocam Lionel como responsável por algum plano sombrio ou atividade suspeita. E ainda há a questão do assassinato dos pais de Lionel. Na terceira temporada ele interna Lex e o aplica terapia de eletrochoque para fazê-lo esquecer que Lionel matou os pais. Ele é preso no final da terceira temporada por esse crime. Contudo passa muitas outras temporadas depois negando que o tenha cometido. Claro que poderia apenas ser um mecanismo de defesa do personagem, porém nas vezes em que o nega, ele é sempre muito verdadeiro, como se realmente estivesse sendo sincero. Então por que correr o risco de matar Lex ou deixá-lo em estado vegetativo se ele era inocente desse crime?

4. Origem do Cristal da Fortaleza

Durante toda a quarta temporada Clark procurou e tentou unir as três pedras do poder que juntas formariam o Cristal que construiria a Fortaleza no Ártico. Uma trama bastante interessante. Pelo desenvolvimento da história parecia que as pedras tinham sido escondidas na Terra há séculos por kryptonianos, pois no século XVII a condessa Margaret Isobel Thoreaux já as procurava. Contudo, lá na nona temporada vemos um flashback de Jor-El com Zod em Krypton, e o pai biológico de Clark está preparando o Cristal para enviar à Terra. Ou seja, como Jor-El poderia ter sido o responsável por enviar o Cristal, se muitos séculos antes aqui na Terra já se procuravam por ele? Ou há um lapso absurdo de tempo entre a Terra e Krypton ou é um erro primário de enredo. Eu creio na segunda opção, já que foi uma cena da nona temporada, quando os criadores originais da série já tinham saído.

5. Aparência de Jor-El

Jor-El é apresentado na série pela primeira vez em flashbacks de Clark na terceira temporada. Ele tem a mesma aparência de Clark e é revelado que ele esteve em missão na Terra quando jovem, e se apaixonou pela tia-avó de Lana, isso lá pelos anos 60, ou seja, 20 anos antes da destruição de Krypton. Na sétima temporada, Lara, a mãe biológica de Clark, chega a confundi-lo com Jor-El quando o vê, devido a semelhança entre eles. Entretanto, na nona temporada vemos um Jor-El em Krypton, 20 anos antes da destruição do planeta, que nada tem a ver com a aparência de Clark ou com a idade que Jor-El é mostrado na visita à Terra lá na terceira temporada. Jogaram a continuidade às favas.

6. Jimmy que não era Jimmy

Se tem um personagem que foi sacaneado na série, esse foi Jimmy, ou melhor James Olsen. Culpa dos roteiristas, claro. Jimmy é apresentado na série na sexta temporada e entra no elenco fixo na sétima. Ele é definitivamente o clássico Jimmy Olsen dos HQs, tanto que há um extra no box do DVD da sétima temporada com vários Jimmys das séries de TV que já tiveram. Contudo, os roteiristas decidiram, por alguma razão, que não queriam mais trabalhar com o personagem a partir da nona temporada e resolveram simplesmente matá-lo no final da oitava. Para justificar tal ato, já que Jimmy não poderia morrer antes de Clark se tornar o Superman, resolveram fingir que na verdade Jimmy não era Jimmy, que era James, que o verdadeiro Jimmy era seu irmão ainda criança, de quem ninguém nunca nem tinha ouvido falar. Essa é de apedrejar os roteiristas.

7. Caixinha da armadura de São Jorge

Desde o início da primeira temporada somos apresentados à caixinha de chumbo, feita da armadura de São Jorge, que Lionel deu a Lex no aniversário de 14 anos dele, e esse flashback é mostrado durante a terceira temporada. Essa caixinha percorre muitas temporadas e passa por muitas mãos, desde quando Lex a dá a Clark. Contudo, lá na oitava temporada ela aparece em um flashback nas mãos de Lex ainda criança, quando ele ainda não a tinha recebido de presente de Lionel. Podemos até imaginar que a caixa já pertencia a Lionel e ele simplesmente resolveu dar ao filho quando ele fez 14 anos, mas é mais provável que seja mais um descuido dos roteiristas, já que lá no flashback Lionel apresenta a caixinha a Lex como se ele nunca a tivesse visto.

8. Dúvidas de Lionel sobre Clark

Durante a segunda e terceira temporadas, Lionel começa a desconfiar que há algo de estranho com Clark e passa a ficar cada vez mais obcecado por ele, como se nem desconfiasse o que poderia ser. Contudo, lá na sétima temporada revela-se que Lionel fazia parte da organização secreta Veritas, que aguardava a chegada de um viajante das galáxias. Na oitava temporada quando descobrimos que Davis Bloome também veio agarrado à nave de Clark, é revelado que Lionel já sabia que o viajante iria chegar no mesmo dia em que ele foi a Smallville com Lex. Lionel inclusive manda procurar pelo viajante e seus empregados encontram Davis e o levam a Lionel. Depois de algumas semanas, quando Lionel percebe que o viajante não é Davis, ele o abandona. E aí a série deixa no ar que uma das principais razões seria a descoberta de que os Kent adotaram um menino no mesmo dia da chuva de meteoros. Então desde essa época Lionel se já não soubesse que o viajante era Clark, ao menos desconfiaria. E com os recursos que ele tem, logo ele daria um jeito de se certificar. Assim não faz sentido as dúvidas de Lionel a respeito de Clark no início da série. 

9. Objetos com múltiplas e bizarras funções

Os objetos kryptonianos são realmente bastante complexos, mas não para tanto. Ao longo da série, alguns tiveram novas funções que surgiram do nada, apenas para atender a necessidade do roteiro. Como por exemplo:
- Lois e Clark sendo enviados à Zona Fantasma só por segurarem o cristal da Fortaleza, quando isso nunca havia acontecido antes, e outras pessoas já tinham segurado e não foram enviadas.
- Bracelete de Kara que subitamente viaja no tempo.
- O DNA de Zod e de seus soldados dentro do orbe que serviria apenas para controlar os poderes de Clark. (Aqui vale mais uma observação. Como que o Zod aprisionado no orbe poderia saber da existência de Davis Bloome, e ainda orientar Tess a ajudá-lo ou destruí-lo, se o DNA do Zod no orbe era de antes do verdadeiro Zod ter criado o Apocalipse?).

10. Clark ressuscitando Zod

Quando Zod morre com um tiro na nona temporada, Clark, num ato de desespero, faz um corte em seu braço com kryptonita para derramar seu sangue na ferida de Zod, que acaba se curando e ressuscitando. A questão é: como Clark sabia que seu sangue poderia fazer isso? Podemos até supor que ele se recordou da terapia que Lionel criou com o sangue de Clark para ressuscitar os mortos na terceira temporada, mas então por que ele não fez o mesmo quando seu pai biológico Jor-El também morreu em seus braços?

11. Livro de RAO

Zod passa a nona temporada quase inteira procurando esse Livro de RAO, que Faora diz a Clark que é a fonte de conhecimento do universo, e que dará uma força poderosíssima a Zod. Contudo, no fim o livro de RAO só serve para mandar os kandorianos à Zona Fantasma. Uma solução bem conveniente para Clark se livrar de Zod.


12. Poderes inexplicáveis de Alia

Alia, a kandoriana que retornou do futuro com Lois, é responsável por um dos erros mais grosseiros de toda a série. Quando Alia chega com Lois no início da nona temporada, ela utiliza seus poderes para tentar matar Lois. Porém, existe uma razão, ainda não revelada nesta data, que a impossibilitaria de ter poderes. Alia é uma das cópias de DNA que Zod coletou em Krypton, mas essas cópias não adquirem poder sob o sol amarelo, apenas sob o sol vermelho. Se formos ao futuro, de onde Lois e Alia vieram, vamos encontrar mais um erro. Lá os kandonrianos estão com poder porque Zod bloqueou o sol amarelo, deixando-o vermelho. Porém, momentos antes de Lois retornar, Clark já havia desbloqueado o sol amarelo, retirando os poderes dos kandonrianos novamente. Ainda assim, Alia corre até Lois com sua supervelocidade, e as duas juntas voltam ao passado. Ou seja, quando Alia corre até Lois, ela já não poderia ter poderes, e muito menos no passado, onde ela chega com Lois. Uma sequência totalmente equivocada, sem o menor planejamento.

quarta-feira, 31 de julho de 2019

O fenômeno Sandy e Junior: há explicação?

Foto: Jairo Goldflus
O retorno da dupla Sandy e Junior, em turnê comemorativa de 30 anos de carreira, segue enlouquecendo o país exatamente como no auge de “As Quatro Estações”, 20 anos atrás. Ingressos esgotados em minutos, shows extras, desespero de quem ficou de fora. A gravadora Universal, detentora de toda obra fonográfica dos artistas, também não deixou a oportunidade passar, relançou alguns CDs avulsos, depois lançou um box contendo todos os 16 discos da carreira deles (embora a qualidade dessa nova tiragem deixe bastante a desejar), e agora está lançando três álbuns em vinil, formato em que a obra deles não era lançada desde 1995, com o disco “Você é D+!”.

Não há dúvida de que Sandy e Junior ainda é sinônimo de sucesso. Evidente que o hiato de 12 anos desde que a dupla se separou, em 2007, explica bem esse “boom” em 2019. Todos querem vê-los juntos novamente, os fãs nostálgicos e uma nova geração que não teve a chance de ir a um show deles. Caso a separação não tivesse ocorrido, não acredito que eles ainda estivessem fazendo todo esse barulho. Os últimos anos juntos já demonstravam uma desaceleração da sua popularidade. Contudo, isso não desvaloriza nem apaga um dos feitos mais raros da história da música brasileira. Sandy e Junior alcançaram sucesso ainda crianças, no primeiro disco, e foram mantendo e aumentando consideravelmente esse sucesso ao longo de mais de uma década. Como isso foi possível? E por que outras duplas e grupos infantis como Balão Mágico, Trem da Alegria, Luan e Vanessa e Mulekada não conseguiram também? Tenho minhas teorias de como pequenas decisões em determinados momentos foram significativas na carreira deles.

"Maria Chiquinha" e a sua sucessora


Para o início do sucesso vários fatores contribuíram. O primeiro foi, inegavelmente, serem filhos de Xororó, que estava com a carreira em ascensão com Chitãozinho à época. Depois, “Maria Chiquinha”, a canção - hoje apontada como misógina e necrófila - foi a responsável por fazê-los sucesso antes mesmo de lançarem o primeiro disco. Na verdade, foi ela quem despertou as gravadoras para o potencial das crianças. Era divertido e surpreendente ver aqueles dois projetos de gente discutindo uma relação de adultos numa canção. E por fim, claro, o talento inquestionável deles, que desde cedo já traziam uma disposição natural à música, inclusive com afinação vocal.

Disco lançado, sucesso alcançado, pronto, deveria ter acabado aí, como aconteceu e acontece com inúmeros artistas. Mas surpreendentemente o novo disco consegue um feito quase impossível de alcançar por um artista: uma nova canção que supere o sucesso anterior. E eles conseguiram. “A Resposta da Mariquinha” seguiu uma fórmula bastante usada pela indústria fonográfica, porém quase sempre sem muito êxito, de repetir a receita do sucesso anterior. A música trazia a dupla novamente discutindo uma relação de adultos. Acontece que “A Resposta da Mariquinha” era muito melhor do que “Maria Chiquinha”. A canção tinha mais ritmo, refrão e não era arrastada como a anterior. A produção do segundo disco também foi significativamente superior. Percebe-se o cuidado, o capricho e a bagagem de Xororó na concepção do novo trabalho da dupla, que ainda emplacou “Vamos Construir”, primeira de muitas versões de sucessos internacionais que os acompanhariam.

Anos 60 e "Com Você"

No terceiro disco há a primeira grande sacada que faz a dupla não perder definitivamente o sucesso. Repetir novamente a fórmula e trazer outra canção nos moldes das anteriores não seria apenas arriscado, mas um erro fatal. E ele ainda foi feito, embora não trabalhado comercialmente. A canção “Ciumeira”, composta por Xororó e parceiros, numa nítida tentativa de recriar algo parecido com “A Resposta da Mariquinha”, deixou evidente o desgaste da fórmula, e o resultado foi uma canção insignificante, que se tivesse sido o carro-chefe do disco teria levado a dupla rapidamente ao esquecimento. Mas algum gênio resolveu apostar nos anos 60, no musical “Grease”, de onde Sandy herdou o nome, e na jovem guarda, saindo um pouco do sertanejo e entrando no rock e no pop, com direito à caracterização de figurino. As versões “Tô Ligado em Você” e “Primeiro Amor” trouxeram um frescor e o elemento surpresa, que acompanhava a dupla desde o início. Além da regravação de “Splish Splash”, que embora trouxesse a velha discussão de casal, vinha embrulhada na nostalgia da jovem guarda.

O quarto álbum trouxe outras inovações, ao mesmo tempo em que se prendia à fórmula de sucesso do disco anterior, os anos 60, aqui bastante explorado em várias faixas. Porém, a produção não se deixou levar apenas pela receita pronta e, com a experiência de "Primeiro Amor", de que uma canção romântica funciona, apostou na versão que se tornou um dos maiores sucessos da dupla, “Com Você”. O hit romântico e bem trabalhado garantiu, quase que sozinho, o excelente desempenho do disco, além, claro, de manter o sucesso da dupla e aumentar a sua popularidade. A canção "Criança Esperança", criada para o programa de TV, emocionou o público e também virou sucesso.

Entre a infância e a adolescência

Para o próximo disco, Xuxa, homenageada em uma canção no álbum anterior, foi convidada para participar em uma faixa. Outros clássicos dos anos 60 e 70 seguiram ganhando versões. A música tema do filme "Dirty Dancing" virou "Sonho Real", e aparentemente foi produzida na intenção de promover o álbum, contudo, a ideia da gravadora, em aproveitar a explosão da série de TV "Power Rangers", foi mesmo quem garantiu a popularidade do disco. Mais a frente, outra canção de discussão de casal ganhou o público, com uma inovação: "Vai Ter Que Rebolar", como o nome já diz, fazia Junior literalmente rebolar, desconstruindo estereótipos sobre o comportamento masculino.

O passo seguinte foi outro grande momento na carreira do dois. A adolescência chegava e o repertório precisava se adaptar. Há um grande salto de qualidade no novo disco. “Dig Dig Joy” foi uma feliz composição que brincava em cima de uma coreografia, com um refrão envolvente, flertando ainda com a infância, enquanto “Não Ter”, versão de sucesso de Laura Pausini, mexia com os sentimentos dos adolescentes que então afloravam. Foi um álbum de transição, muito bem elaborado, que percorria ainda o country e a salsa com “Etc… e Tal” e “Férias de Julho”. Aqui o famoso mullet de Junior também ficava pra trás.

TV, cinema e 1 milhão de cópias

Com o talento cada vez mais evidente, exigentes na qualidade do trabalho e a popularidade crescendo, eles ganham seu próprio programa de gincanas e entrevistas na extinta TV Manchete, o “Sandy e Junior Show”, ajudando a promovê-los ainda mais. O disco seguinte reafirmou com segurança o rumo que a carreira dos jovens adolescentes tomava. Outra vez quiseram refazer a fórmula de sucesso de um álbum anterior, criando a música “Pomponeta”, que também brincava em cima de uma coreografia, com um refrão nonsense, para ser uma nova “Dig Dig Joy”. Porém, novamente não caíram nessa armadilha e lançaram “Beijo é Bom”, com uma pegada bem mais pop, que lembrava muito a canção “Wannabe” das Spice Girls. No contrapeso, a balada “Inesquecível”, mais uma versão de Laura Pausini, que se tornou outro dos maiores sucessos da dupla. Ainda conseguiram se destacar as canções “Eu Acho Que Pirei”, “Little Cowboy”, “Pot-pourri Bee Gees” e “Era Uma Vez”, essa feita exclusivamente para a novela homônima, em parceria com Toquinho, incluída no disco numa nova tiragem no ano seguinte.

Por essa época, o talento de Sandy é reconhecido pelo tenor italiano Andrea Bocelli e eles gravam juntos a canção “Vivo por Ella”. Também estreiam como atores no filme dos Trapalhões “O Noviço Rebelde”. A essa altura já estava mais do que evidente de que aquelas crianças que começaram cantando “Maria Chiquinha” tinham chegado mesmo para ficar. Cada álbum vendia mais que o anterior. Surge então a ideia de gravar o primeiro disco ao vivo, com mais três faixas inéditas de estúdio. A versão de Celine Dion do tema de Titanic, “Em Cada Sonho”, promoveu o álbum, aproveitando o sucesso do filme, seguida da versão de Savage Garden, “No Fundo do Coração”, que se tornou o primeiro videoclipe deles a entrar na MTV. O registro do show também foi lançado em VHS e o saldo final do disco foi o primeiro a ultrapassar 1 milhão de cópias.

"As Quatro Estações" e o seriado

Agora parecia que Sandy e Junior enfim tinham chegado ao topo, e então eles lançam o icônico “As Quatro Estações”, um dos maiores saltos de qualidade, inovação, técnica e amadurecimento da carreira, e um dos melhores álbuns deles. O disco saiu em meio à primeira temporada do seriado “Sandy e Junior” na Rede Globo. Decidir atuar, interpretando a si mesmos numa série de TV, que levava os seus nomes, foi mais uma sábia decisão. Eles e suas canções entravam toda semana no lar de milhões de brasileiros. Dessa forma, quase todas as músicas do disco foram tocadas no seriado e ficaram conhecidas, catapultando completamente a carreira deles. A divulgação do disco, contudo, começou sem arriscar muito, com a versão de Celine Dion, “Imortal”, mas logo as primeiras composições de Sandy, “Olha o que o amor me faz” e “As Quatro Estações”, se mostraram bem mais interessantes, assim como “Aprender a Amar”, a canção que trazia Junior muito bem nos vocais principais. O ritmo enérgico da juventude ficou por conta de “Eu Quero Mais” e “Vamo Pulá”. E ainda passearam pelo italiano com a belíssima “Malia”, produzida para a novela “Terra Nostra”.

Aproveitando o sucesso de tantos singles do álbum, eles decidem lançar novamente um disco ao vivo, a versão “Quatro Estações - O Show”, com três canções inéditas de estúdio outra vez, o famoso CD com as quatro opções de capa. “A Lenda”, composição do grupo Roupa Nova, foi literalmente o apogeu da dupla. O disco ainda trouxe o sucesso “Enrosca” com vocais de Junior, repetindo o que havia dado certo em “Aprender a Amar”, porém, dessa vez, sem Sandy para acompanhar. É ainda hoje o álbum com maior número de vendagens deles. Também nesse ano gravam uma canção em parceria com o cantor espanhol Enrique Iglesias. E no início do ano seguinte participam da terceira edição do festival internacional Rock in Rio. O sucesso da dupla ficara tão gigante que Sandy ganha uma novela pensada exclusivamente para ela na Rede Globo, “Estrela-Guia”.

Artistas internacionais

Outro salto de qualidade é alcançado no disco seguinte. A balada “O Amor Faz” e a frenética “A Gente Dá Certo” deram início aos trabalhos de divulgação do álbum, porém, a primeira canção acabou superada quando as demais começaram a despontar, como “Não Dá Pra Não Pensar” (de autoria dos próprios irmãos), “Nada é Por Acaso”, "Cai a Chuva” e principalmente “Quando Você Passa”, a famosa Turu Turu.

Pensando em conquistar o mercado internacional também, a gravadora lança o projeto de um disco em inglês, lançado em vários países ao mesmo tempo. Gravado quase que simultaneamente ao álbum anterior, mas lançado no ano seguinte, o disco “Internacional” fez a dupla gravar não só em inglês, mas em espanhol e francês. As canções “Love Never Fails” e “Words Are Not Enough” alcançaram bom desempenho já que tudo que eles gravavam nessa época virava sucesso, no entanto, apesar da superprodução do álbum, não eram canções originais, já haviam sido gravadas por outros artistas pouco tempo antes. Entre as duas faixas bônus em português, a versão “Super-herói” com vocais de Junior, como já havia virado costume. Curiosamente, umas das melhores canções em inglês acabou de fora da versão nacional do disco. “Until I See You Again”, assim como as versões em inglês de “A Lenda” e “As Quatro Estações”, só entraram como extra no disco duplo seguinte “Ao Vivo no Maracanã + Internacional Extras”.

Registrado em DVD e lançado no mesmo ano do disco "Internacional", o show no Maracanã os sagrou para a posteridade como os primeiros artistas nacionais a lotar o estádio brasileiro. O álbum foi lançado em versão dupla, contendo as canções que ficaram de fora do disco "Internacional" e as versões que foram lançadas em outros países.

Maior autonomia

Esgotados com o excesso de trabalho do ano anterior, a dupla decide não dar continuidade à carreira internacional, bem como não renovar o seriado com a Rede Globo, após quatro anos, e optam pela gravação do filme “Acquária”. Apesar de bem produzido, o roteiro deixou um pouco a desejar. A canção-tema do filme, “Encanto”, foi a primeira a promover o novo disco “Identidade”, que mostrava os irmãos bem mais à vontade na produção, composição e seleção do repertório. “Desperdiçou” virou chiclete, seguida de “Nada Vai Me Sufocar” e “Você Pra Sempre”.

Depois de 13 anos lançando ao menos um disco por ano, eles finalmente se dão ao luxo de trabalhar com maior tranquilidade na produção de um novo álbum, ficando dois anos sem lançar nada. O disco homônimo lançado em seguida mostra um grande amadurecimento musical da dupla, trabalhando as canções mais artisticamente e com menos apelo popular. Talvez por isso seja o “menos queridinho” dos fãs, embora o material seja de excelente qualidade. “Replay”, com uma pegada mais popular, foi a que mais fisgou, seguida da balada “Estranho Jeito de Amar”. Destaque também para “Discutível Perfeição”, em que Sandy “chuta o balde” contra o rótulo de santinha.

Menos populares do que quando “As Quatro Estações” estourou, mas ainda sinônimo de sucesso, eles decidem se separar e gravam o último álbum de despedida, após 17 incríveis e bem sucedidos anos de carreira. O que também explica o fenômeno em 2019. Eles não saíram no auge, mas um pouquinho depois, deixando a sensação de que ainda tinham o que oferecer. E por que outros artistas mirins não conseguiram os mesmos intentos? Talvez decisões equivocadas em algum momento, erro de seleção de repertório, ausência de uma boa música que ultrapassasse o sucesso anterior. Sandy e Junior foram muito bem assessorados desde o início, tiveram sempre ótimas inovações no repertório, souberam usar bem as versões de músicas internacionais e aproveitar as oportunidades que surgiram, como os programas de TV e filmes, além, claro, de sempre terem sido extremamente competentes e profissionais com o trabalho que faziam. Merecem o sucesso e o reconhecimento que estão tendo com a turnê “Nossa História”.

sexta-feira, 16 de fevereiro de 2018

Beatles: álbuns preferidos

Enumerar os melhores álbuns dos Beatles não é uma tarefa fácil, embora já haja certo consenso em relação a alguns discos e a própria crítica especializada já tenha apontado diversas vezes os melhores de todos, mesmo que ela tenha mudado o ranking algumas vezes ao longo dos anos. Entretanto, minha tarefa aqui é mais simples. Eu vou listar não os melhores álbuns em termos de produção técnica, engenharia, know how, mas sim as canções e a sonoridade dos Beatles que chegam primeiro ao coração desse beatlemaníaco aqui. E mesmo que a qualidade técnica influencie em determinados pontos, é a melodia, a harmonia e até mesmo a letra que estão contando ao final. Já vi muitas listas de melhores álbuns dos Beatles, mas nenhuma delas condizia exatamente com a minha. Encontro sempre algumas semelhanças em determinadas posições, mas há também muitas surpresas com a colocação de alguns álbuns. Então resolvi postar a minha também. Deixando claro que essa seleção é pessoal e não se baseia nas especificações e evoluções técnicas de cada disco. Se assim o fosse o ranking seria outro. É apenas a sequência de um apaixonado pelas canções da mais bem sucedida banda de rock de todos os tempos. Come together!

13º. Yellow Submarine

Lançado em 1969 como parte da trilha sonora do filme de mesmo nome, o 11º álbum dos Beatles não tem muito o que oferecer. Na verdade ele é mais trilha do filme do que propriamente disco dos Beatles. Duas de suas canções já estavam presentes em outros álbuns: Yellow Submarine em Revolver e All You Need is Love em Magical Mystery Tour. Das inéditas, não há uma música forte ou significativa o suficiente para marcar o álbum. Particularmente eu gosto de Hey Bulldog e Only a Northern Song. As canções instrumentais de George Martin são até interessantes como parte da trilha do filme, mas não são música Beatles. Por isso tudo, esse disco fica na minha última posição.


12º. Beatles For Sale

Quarto álbum dos Beatles, lançado no final de 1964. Não é um disco muito forte, e acredito que isso é quase unanimidade. Eu gosto de No Reply, Baby’s in Black, I’ll Follow the Sun What You're Doing, mas no geral não há nada muito marcante. Vindo depois do estrondoso sucesso que foi A Hard Day's Night, e com a cruel missão de substituí-lo, esse álbum decepcionou um pouco por voltar a utilizar covers em grande quantidade para fechar o repertório, uma prova de como era grande a pressão mercadológica para produzir novos discos em um curto espaço de tempo, resultando em trabalhos não tão bem elaborados. Lembrando ainda a rotina extremamente estafante em que a banda se encontrava  na época, o que gerou uma certa estagnação na produção dos novos trabalhos.

11º.  Please Please Me


Álbum de estreia dos Beatles em 1963. Disco bom e importante por nos apresentar os meninos de Liverpool, com as clássicas Love Me Do, P.S. I Love You, I Saw Her Standing There e Twist and Shout. Gravado todo numa única cansativa e esgotante sessão. Mesmo com seis covers no repertório, o álbum flui bem, e diferente de Beatles For Sale, funciona perfeitamente, conseguindo deixar sua marca até nas canções não originais. Contudo, diante da grandiosidade que veio depois, ele fica aqui na 11ª colocação.



10º. With The Beatles


Segundo álbum dos Beatles, lançado também em 1963. Melhor que o anterior em elaboração e composições, mostrando o primeiro salto rumo à constante evolução da banda. Com seis covers também que se somam harmoniosamente às canções originais. Tem também a primeira contribuição de George na banda com Don't Bother Me. Entre as minhas favoritas estão All My Loving, It Won’t Be Long, All I’ve Got To Do e Hold Me Tight.




9º. A Hard Day’s Night


Terceiro álbum dos Beatles, lançado em 1964, junto com o filme homônimo. Primeiro disco a conter unicamente composições próprias dos Beatles e o único a ter apenas composições de Lennon e McCartney. Um dos mais bem sucedidos álbuns da banda. Foi o disco que me apresentou aos Beatles e pelo qual tenho um carinho especial. Entretanto, apesar de ter canções que considero maravilhosas como And I Love Her, I Should Have Know Better, If I Feel e a canção-título, a segunda parte do disco já não me empolga tanto mais.



8º. Help!


Quinto álbum dos Beatles, lançado em 1965, junto com o filme homônimo também. Com apenas dois covers e a inclusão da consagrada Yesterday, que quase não entrou na seleção por destoar do perfil do disco, foi outro grande sucesso, repetindo a fórmula de A Hard Day's Night. Além do tema principal, as canções The Night Before, Ticket To Ride, You Like Me Too Much, Tell Me What You See e I’ve Just Seen a Face são as minhas favoritas.




7º. Let It Be

Último álbum dos Beatles, penúltimo gravado, lançado em 1970. Acrescento aqui também a versão Naked, lançada em 2003. Sei que haverá gente a questionar Let It Be na frente de outros álbuns de sucesso, afinal ele foi um disco atrapalhado, lançado sem muito capricho, com o material do fracassado projeto “Get Back”. Ainda assim, deixando de lado os detalhes técnicos, e analisando especificamente a sonoridade das músicas, é um disco que me agrada muito. Adoro I’ve Got a Feeling, Dig a Pony, For You Blue, I Me Mine e Across the Universe (a versão Naked é melhor, menos arrastada). Sinto falta de Don’t Let Me Down, mas ela está presente em Naked. The Long And Winding Road também é melhor na versão de 2003, Paul estava certo.

6º. Magical Mystery Tour

Nono álbum dos Beatles, lançado no final de 1967, como trilha-sonora do desastroso filme homônimo. Apenas as músicas do filme - lançadas como EP no Reino Unido na época - já fariam esse disco ser muito bom, I Am The Walrus, The Fool On The Hill Flying são ótimas, mas a versão americana acrescentando os compactos da banda daquele ano conseguiu deixá-lo melhor ainda. A presença de Strawberry Fields Foreverque fez falta em Sgt. Peppers, atesta a colocação tão boa desse álbum. A única música que não curto muito no disco é Hello, Goodbye, embora seja uma canção muito famosa dos Beatles, ela não me empolga muito. Já Baby, You're a Rich Man eu tenho um verdadeiro fascínio.

5º. Rubber Soul

Sexto álbum dos Beatles, lançado no final de 1965. Rubber Soul começa a sinalizar a mudança na direção do estilo musical dos Beatles e suas novas influências. Por muito tempo figurou entre um dos meus três prediletos. Há sempre uma disputa entre Rubber Soul e Revolver sobre qual seria o melhor disco, com o último quase sempre levando a melhor. O fato é que ambos são maravilhosos, e frequentemente os dois estão trocando de posição no meu ranking. Adoro GirlDrive My Car, You Won’t See Me, Think For Yourself, Wait If I Needed Someone. Sou apaixonado por In My Life, só não curto muito Michelle, me soa um pouco açucarada demais.


4º. Revolver


Sétimo álbum dos Beatles, lançado em 1966. Predileto de muitos e sempre queridinho, Revolver é recheado de boas canções. Taxman, Eleanor Rigby, I’m Only Sleeping, Love You To, She Said She Said, And Your Bird Can Sing, Got to Get You into My Life e Tomorrow Never Knows são as minhas preferidas. Nem é preciso dizer que esse disco foi inovador e marcou definitivamente a mudança da fase beatlemania para uma era de musicalidade mais madura da banda.



3º. Sgt. Peppers Lonely Hearts Club Band


Oitavo álbum dos Beatles, lançado em 1967. Aclamado mundialmente pela crítica e considerado o melhor disco da banda. Realmente ele é tudo isso. Mas quando se discute favoritismo, cada um sabe do seu e não há o que discutir. Por isso, Sgt. Peppers fica ainda na terceira posição dos meus discos preferidos. Gosto de todas as músicas do álbum e considero A Day in the Life, senão a mais, uma das mais bonitas músicas dos Beatles.




2º. The Beatles (White Album ou Álbum Branco)

Décimo álbum dos Beatles, lançado em 1968. Único álbum duplo da banda. Aparte os atritos dos integrantes na produção do disco, resultando num trabalho que captura nitidamente o estilo musical de cada um, o Álbum Branco reúne 30 canções numa diversidade de sons e ritmos que faz desse disco tão especial e o meu segundo preferido. Gosto principalmente das composições de John: Happiness Is a Warm Gun, Dear Prudence, Sexy Sadie, Everybody's Got Something to Hide Except Me and My Monkey, Revolution 1, I’m So Tired e Julia. De Paul: Why Don’t We Do It in the Road?, Mother Nature’s Son e Helter Skelter.  E ainda as de George: Savoy Truffle, Long Long Long e While My Guitar Gently Weeps, disparada de longe a melhor canção do disco.

1º. Abbey Road

Décimo segundo álbum dos Beatles, lançado em 1969. O último disco gravado. Em Abbey Road eu gosto de tudo, das canções à capa e contracapa do disco, pra mim a mais bonita de todas. Come Together, Something, Here Comes The Sun, Because, I Want You, Oh! Darling são todas fabulosas. Na segunda parte do disco temos uma obra-prima de Paul. As duas sequências de medleys desde Sun King She Came in Through the Bathroom Window, e de Golden Slumbers The End são de uma grandiosidade musical sem comparação. A meu ver a melhor contribuição de Paul na banda, ou a que mais me agrada. E a frase final, depois do incrível solo de bateria de Ringo - como John já disse - carrega uma filosofia cósmica que continua ecoando após os últimos acordes do álbum. Abbey Road é um diamante perfeitamente lapidado!

“...and in the end, the love you take is equal to the love you make.”

quinta-feira, 20 de outubro de 2016

O Golpe se prepara para o Grand Finale

É, meus amigos, tempos difíceis se aproximam. A nuvem sombria que ronda Brasília começa a se espalhar para cobrir o país. As forças sinistras que se uniram no enorme pacto nacional com o único objetivo de subir ao poder a todo custo, após as eleições de 2014, começam a concretizar de fato seus propósitos.

Derrotados, inconformados, revoltados, acuados e sem vislumbre de alcançar tão cedo seus interesses, o PSDB e aliados somaram forças com a elite (da qual fazem parte), com a grande mídia, com empresários brasileiros e investidores estrangeiros, aproveitaram-se da parcela da população insatisfeita com a corrupção e com o PT (amplamente massacrado como vilão de toda história), e articularam, juntamente com os congressistas sujos de escândalos de corrupção, e o próprio judiciário (para simular legalidade em toda ação), o Grande Golpe contra a democracia e o povo brasileiro.


Depois de retirar Dilma da presidência, através de um argumento totalmente infundado, e de simular um governo legítimo com o infiel Temer, agora a orquestrada prisão de Eduardo Cunha prepara os próximos passos do plano inicial. A tão afamada delação de Cunha não irá prejudicar nenhum tucano (amparados por Sérgio Moro), mas servirá de justificativa para a retirada de Temer do poder - novamente encenando "a luta contra a corrupção" -, e para a prisão de Lula, o maior empecilho e receio dos tucanos para as próximas eleições.


Com Lula preso e Temer afastado antes das eleições, acontece a tal eleição indireta, a "menina dos olhos do Congresso", e puf, o PSDB sobe ao palanque, quem sabe o próprio Aécio. Golpe realizado com sucesso. Os derrotados de 2014 chegam ao poder a todo custo, como planejaram, e dão seguimento ao desmonte do Estado, já iniciado por Temer. Privatizações, estado menor, menos saúde, menos educação, mais lucros a banqueiros e grandes empresários, retrocesso de leis trabalhistas não visto há um século, mais pobres, menos ricos, mais miséria, corrupção, mais abismo social.


Tudo isso tem que ser encaminhado e posto em prática até 2018, para o caso hipotético de Lula conseguir se candidatar e se reeleger (apesar de todos os esforços contrários), e o PSDB não conseguir se manter no governo. Esse é na verdade o grande desafio dos articuladores do golpe. Eles sabem que a única chance de saírem vitoriosos nas próximas eleições é impedindo a candidatura de Lula. Por isso a perseguição a ele e ao PT é uma das metas principais do golpe. Afinal, eles não querem apenas os próximos dois anos, querem a perpetuação no poder, a eternidade de desmandos e interesses seletivos.


E nós, o que fazemos? Assistimos a tudo de camarote, aplaudindo e celebrando as migalhas de conquistas cenicamente arquitetadas para distrair e dar seguimento às ações camufladamente golpistas? Engolindo a seco as medidas descabidas de uma plataforma de governo rejeitada nas urnas, de um poder que não dialoga com o povo, que não escuta quem ele representa, que não tem a menor intenção de reduzir a corrupção, e sim institucionalizá-la? É preciso ir à luta! Resistir! Reforma política já! Essa é a principal mudança de que o país necessita. É preciso brigar pelos direitos de todos, pela nossa democracia, por uma pátria mais justa e humanitária. É hora de agarrar - nem que seja com os dentes -, a chance de um futuro mais digno para todos.